Nossa pedagogia traz como característica a leveza no seu dia a dia. Essa leveza é marcada pela liberdade, prerrogativa da nossa educação, o olhar sensível com relação a cada SER e o entendimento do tempo, como possibilidade de expansão, e não como bloco de rotina que deverá ser cumprido.
Isso quer dizer que não há rotina? Sim, há, pois ela é fator de saúde na vida da criança, ela necessita dessa estrutura, porém, dentro da rotina há possibilidades de se dar tempo. Tem momentos únicos em que a criança está agindo, sendo, e esses momentos não devemos interromper, cabe a nós esperar, observar, administrar o tempo, para ela ter o seu. Podem ser momentos de descobertas, de um brincar livre e imaginativo, pode ser um momento da criança sozinha ou do grupo imerso em uma proposta. O olhar sensível do educador saberá dizer se é hora de voltar para o tempo cronológico ou se podemos continuar a usufruir dessa transcendentalidade.
Certa vez uma criança disse “vamos soltar a mariposa para ver se ela vive de novo?”. O que faz um educador diante de uma situação como essa se tudo o levava a seguir por algum cronograma previamente planejado? Vai ou não vai acompanhá-la no seu percurso?
Há nesta situação duas coisas essenciais a comentar. Primeiro, a leveza de um dia a dia depende da nossa abertura para sermos desestabilizados pelas crianças. E segundo, a leveza de um dia a dia depende da nossa capacidade de enxergar beleza no comum, ou melhor, de sentir o vibrar criador poético da criança. A criança por vezes nos convidará, dirá “vamos”, outras vezes irá sozinha, e de nós bastará presenciar, testemunhar, seja a um palmo dela, seja à distância com os olhos.
Na criança, a leveza acontece quando o pé firmou na terra, quando descobriu que a gravidade é um brinquedo e que a água troca seus fluidos, quando o fogo acende nela o mistério do viver, quando as estações anunciam começos e fins, quando o sol e a chuva lhe diz o que pode fazer, quando descobre, enfim, que os brinquedos potencializam gestos e articulações.
São doadoras de força a árvore, a pedra, o barro, o chão, o vento, são brinquedos nas mãos da criança. Como não será leve uma vida repleta de brinquedos assim?